Crise no campo e o alerta no Banco do Brasil: A negociação como chave para superar a tempestade.


08
setembro
2025
Por Por Guilherme Del Bianco e Carolina Vanzolini

Nos últimos meses, temos acompanhado com atenção as notícias sobre a forte queda no lucro do Banco do Brasil, um gigante financeiro e o principal parceiro do agronegócio brasileiro. A queda de 60% no lucro no segundo trimestre de 2025, em comparação com o ano anterior, acendeu um alerta não apenas no mercado financeiro, mas principalmente entre os produtores rurais de nossa região e de todo o país.

A crescente inadimplência, que atingiu o patamar histórico de 4,21% na carteira do banco, não é apenas uma estatística. Ela reflete a dificuldade real que muitos produtores rurais estão enfrentando para honrar seus compromissos financeiros.

O epicentro da crise: Quebras de safra e o crédito rural

Não é segredo que o Banco do Brasil é o maior financiador do agronegócio no país. Com uma carteira de crédito rural que ultrapassa os R$ 400 bilhões, o banco é fundamental para o plantio, a colheita e a modernização do campo. No entanto, essa forte ligação com o setor também o torna mais vulnerável às intempéries que afetam a produção agrícola.

As recentes quebras de safra, causadas por secas, estiagens e outras instabilidades climáticas, foram o estopim da crise atual. O produtor rural, que investiu no plantio e contava com a colheita para pagar seus financiamentos, viu sua produção ser drasticamente reduzida. Sem a receita esperada, o pagamento das parcelas do crédito rural se tornou uma tarefa quase impossível para muitos.

O resultado é um efeito dominó: o produtor não consegue pagar o banco, a inadimplência dispara e o lucro da instituição financeira despenca. É um ciclo perigoso que, se não for gerenciado com cuidado e estratégia, pode levar a uma crise financeira ainda mais profunda, afetando toda a cadeia produtiva.

A visão jurídica: A negociação como direito e estratégia

Diante deste cenário, é fundamental que o produtor rural saiba que a negociação de suas dívidas não é apenas uma opção, mas um direito. A legislação brasileira, por meio do Manual de Crédito Rural (MCR), prevê a possibilidade de prorrogação e renegociação de dívidas em casos de dificuldades de comercialização da safra ou frustração de safras por fatores adversos.

Do ponto de vista jurídico, a negociação é uma ferramenta poderosa para evitar a execução da dívida, a perda de bens e a negativação do nome. No entanto, é crucial que essa negociação seja feita de forma estratégica e, de preferência, com o acompanhamento de uma assessoria jurídica especializada.

Um erro comum é o produtor aceitar a primeira proposta do banco sem uma análise detalhada das condições. Muitas vezes, é possível obter alongamentos de prazo mais favoráveis, redução de juros e até mesmo a exclusão de encargos indevidos. A confissão de dívida, por exemplo, é um instrumento que deve ser analisado com extrema cautela, pois pode limitar futuras discussões judiciais.

O papel do banco e o caminho a seguir

Para o Banco do Brasil, a negociação também é o caminho mais inteligente. Uma abordagem flexível e individualizada, que considere a situação de cada produtor, é mais eficaz do que uma postura inflexível de cobrança. Recuperar o crédito, mesmo que em prazos mais longos, é sempre mais vantajoso do que arcar com o prejuízo total da inadimplência.

O momento exige diálogo e bom senso de ambas as partes. Aos produtores rurais, recomendo que não se desesperem.

A saúde financeira do banco está intrinsecamente ligada à saúde financeira do campo. A negociação não é um favor, mas uma necessidade estratégica para a sobrevivência e a prosperidade de ambos.